terça-feira, 23 de junho de 2009

Ponto de Retorno

Vivemos em dias temerosos e talvez nunca possamos nesse plano material viver uma realidade diferente, mas se algum dia o céu obscurecido por anos de degradação voltasse a brilhar com a luz do sol sobrariam traços de poluição sobre as nuvens que algum dia foram cinzentas como o concreto envelhecido de obras não concluídas.
Porque por maiores que fossem as mudanças, sobrariam ainda os buracos dos pregos arrancados da porta com extremo esforço. Por buracos tão profundos entrariam os últimos vestígios de luzes pálidas e distorcidas, iluminando assim os resíduos do sangue mortal que foi limpo das calçadas e das lágrimas que foram enxugadas com pano áspero e cortante.
Embora todos os edifícios reconstruídos de forma bela (tão bela que ultrapassariam as das maravilhas do mundo) pudessem ser freqüentados por todos, os olhares que algum dia foram preconceituosos e maliciosos transmitiriam uma enorme sensação de tristeza profunda e arrependimento compensado com justiça tardia, e nem todos se sentiriam completamente iguais.
Todo o lixo das ruas, já muito fétido e pútrido, seria enviado ao espaço e ainda haveria a lembrança do terrível odor de chorume invadindo casas e perturbando pessoas nem sempre de bem, e toda essa imundície doentia poderia algum dia retornar a existir puramente para incomodar. Pois haveria ainda um proliferador de doenças ambicioso e egoísta que quisesse restabelecer “ordem”.
Mas toodos seriam devidamente alimentados em banquetes realizados em mesas redondas com suportes de ouro e toalhas bordadas com flores e pássaros. As taças cheias nunca se esvaziariam e todos poderiam sempre retornar ao mesmo ponto para beber novamente o mesmo vinho doce e suave, mas ainda assim haveriam pensamentos voltados ao horizonte lembrando-se dos dias em que não havia mesas, toalhas e vinho para todos.
Mas embora sobrasse crucifixos em lugares hediondos, o mundo seria feliz e a paz duradoura, quem sabe eterna.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Sede


Gargantas secas têm construído os nossos edifícios já faz algum tempo. A esperança está no risco, no trabalho, no suor que pinga a mais de 30 metros de altura todos os dias.
Enquanto lá em baixo passam os carros, a parte que fica mais próxima do sol está calma, só ouvimos o vento sob as marteladas, a constância de tudo isso gera uma grande obra, definitivamente uma bela obra. Nada que não seja construído por quem nunca pode desfrutar do luxo dessas lindas obras.
De repente um baque. Uma multidão é capaz de se formar rapidamente quando em lugares assim acontecem acidentes. Oh, agora não poderá mais trabalhar em prol dos grandes edifícios onde se instalam os escritórios das enormes multinacionais. Afinal, quem consegue trabalhar como pedreiro sem uma perna?
Mais pessoas virão, todas vem do norte, terra com nomes que sempre aludem a belas paisagens, mas estas são sempre as mesmas. Ao horizonte vêem-se arbustos secos e poucas nuvens para cobrir o sol, este que mesmo à tarde queima as costas dos homens de pouca esperança.

domingo, 7 de junho de 2009

Perdas irreversíveis

Eu sinceramente não sei como é perder um ente querido, ou como é estar á beira da morte e retornar mais vivo do que nunca. É claro que já tive sensações que de longe se assemelham a essas situações, como quando um tio querido meu morreu ou quando por pouco não fui atropelado por um caminhão.
Penso que quando uma pessoa perde um ente querido, tal como a mãe, o pai, irmão(ã) ou amigo(ã) tende a se torna mais austera, mais intolerante às fragilidades alheias e suscetível a diminuir em muito a capacidade de se relacionar bem com outras pessoas, já que o trauma acaba consumindo o espírito de muitas formas.
Penso, ainda, que a escuridão de se estar à beira da morte é o cúmulo de situação desesperadora, ou até mesmo que traga paz à quem acredita em um plano melhor, ou no descanso eterno como meio de ser feliz.
Nunca soube o que dizer a quem realmente já sofreu pela privação da companhia de alguém especial pelo resto dos dias, mas imagino que eu mesmo me sentiria desesperado caso acontecesse comigo e que qualquer palavra seria nula, mas não creio que isso afetaria minha vida social.
E se algum dia eu realmente chegasse perto da morte e permanecesse assim por um bom tempo pra depois retornar me tornaria uma pessoa mais matura, o tempo de morbidez me faria pensar nas coisas que deixei passarem sendo consumidas pelo tempo e pouco aproveitadas. Talvez com tudo isso eu me sentisse mais forte, mais resistente, ah sim, mais vivo...
De qualquer modo, o clichê de que nunca se sabe o dia de amanhã é válido, viva de modo que não importe o que aconteça depois!