sábado, 10 de outubro de 2009

Informatização

Você os observa com seus olhos semicerrados obscuros, quando não é isso usa seu olhar de canto tentando disfarçar sua angústia que se soma à privação que tem se submetido.
Como massas espectrais as pessoas vão passando diante de seus olhos sem ao menos parar pra ver que você os odeia. Mas alguém já percebeu, e você não o permitiu se aproximar, nunca deixou te tocarem, nunca retribuiu as palavras, nunca viveu.
Com certeza preferes ficar trancafiado no seu quarto se alienando do mundo e deixando tudo passar pra só quando for tarde demais tentar viver, tentar fazer o que todos já fizeram, ter a adolescência que os outros estavam tendo enquanto você ficava figurativamente entubado ao computador como um moribundo fica aos aparelhos respiratórios, porque afinal, é o que você tem respirado durante vários anos de sua vida.
Durante a maior parte do tempo você viveu realidades falsas, conotativas, sem importância para as partículas do seu corpo, mas extremamente prazerosas para a as mente, que teria vivido melhor sem elas.
Agora talvez tente reparar os erros cometidos, mas nada encontrará além de indiferença ou pena, o que de fato é o mesmo que já tem dos seus amigos digitais. Lamentavelmente e imutavelmente real é a sua fantasia.
E à medida que o seu cérebro continuar se definhando haverá a autoridade invisível que a cada dia irá se alimentar do seu vício, da sua fragilidade humana e de qualquer outra coisa que você poderá indiretamente dar a ela.

Faz tempo que não posto (muito tempo), mas agora espero voltar a postar toda semana novamente, espero que tenham gostado dessa postagem, grato.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Matadouro de Humanos

Imagine como seria passar a vida inteira numa cela apertada sem jamais ter visto a luz do sol ou saber o que é prazer e alegria, sem jamais ter pisado na grama e sentido a doce brisa do ar livre na face. Imaginou? Pois saiba que isso existe aos montes...
A criação 38 da cela 2448 pensava constantemente em como seria o mundo exterior. Alguns lhe diziam que era maravilhoso e que já estiveram lá, mas como ele não conhecia nada além de sua cela de 3 metros quadrados seria impossível imaginar o que era esse tal de sol e o quanto os seus raios eram agradáveis.
Às vezes, quando os bois vinham encher os cochos das crias daquele setor, ele saia de seu devaneio constante só para comer, porque se não comesse a lavagem nutritiva repleta de antibióticos e restos que lhe serviam recebia fortes choques ali mesmo em sua cela, vindos automaticamente da máquina que monitorava todas as atividades ocorridas ali.
Parte do trabalho desse local era Manual e feito inteiramente pelos bois mais fortes, mas toda a parte automatizada era tão eficiente que se tudo fosse automatizado seria dispensável qualquer trabalho racional. Como os seres humanos eram aparentemente criaturas mais inteligentes do que os macacos e roedores era necessário manter vigilância constante. O incrível é que mesmo assim ainda ocorriam muitas fugas, mas os animais eram capturados o mais rápido o possível.
Em meio aos delírios e momentos de lamentação pelas dores constantes nas feridas a criação 38 pensou que podia fugir no meio da madrugada ou quando fossem lhe buscar, pois embora não soubesse pra onde todos iam imaginava que não era pra um lugar melhor e mesmo com alguns das celas próximas dizendo que aquilo era normal e certo, algo lhe perturbava profundamente, e o que havia fora daquele ambiente sujo e escuro era o que ele queria descobrir.
Num belo dia (belo?) as criações daquele setor iam para “A Máquina”, nenhuma criação humana sabia o que era isso, mas era assim que os Bois a chamavam, então 38 foi conduzido ao lado de seus companheiros pro corredores estreitos e entraram numa espécie de caminhão, que após 5 minutos fechado abriu as portas e todos os humanos ali perceberam que o lugar era diferente, alguns já sabiam o que ia acontecer, mas ficavam quietos, outros achavam que iam para um lugar melhor e ficavam felizes.
Sendo conduzido em meio aos outros humanos, 38 sentiu um enorme medo e perdeu as esperanças em fugir, pois continuava acorrentado e as paredes do mudo do corredor onde estava eram altas e haviam bois vigilantes ao longo de todo o percurso.
Após seguirem por algum tempo pelo corredor chegaram em frente a uma porta horrenda que se abriu bem devagar e se fechou após um humano qualquer dentre os vários que estavam ali ser empurrado pra dentro daquela escuridão. Com a porta fechada um grito humano foi ouvido por todos e quando a porta se abriu novamente pode-se ver sangue escorrendo pelo corredor, sangue vindo daquela escuridão misteriosa e mortal.
Por muito tempo o processo se repetiu até chegar a vez de 38, que entrou pela porta e finalmente pode ver para que foi criado. Em menos de um segundo uma luz forte se acendeu e sua última visão foi a de um objeto que sendo introduzido rapidamente em seu crânio o fez convulsionar até a morte.
O processo adotado pelos Bois era eficiente e rápido, e por muito tempo foi assim, até ficar mais rápido e mesmo assim mais doloroso. Toda a carne humana era aproveitada, com as partes mais impróprias para o consumo direto eram feitas carnes de Hambúrgueres e salsicha...